11 de set. de 2011

A PALAVRA PESQUISA.
 
Pesquisa é uma palavra que nos veio do espanhol. Este por sua vez herdou-a do latim. Havia em latim o verbo perquiro, que significava "procurar; buscar com cuidado; procurar por toda a parte; informar-se; inquirir; perguntar; indagar bem, aprofundar na busca". O particípio passado desse verbo latino era perquisitum. Por alguma lei da fonética histórica, o primeiro R se transformou em S na passagem do latim para o espanhol, dando o verbo pesquisar que conhecemos hoje. Perceba que os significados desse verbo em latim insistem na idéia de uma busca feita com cuidado e profundidade. Nada a ver, portanto, com trabalhos superficiais, feitos só para "dar nota".

Se não houvesse pesquisa, todas as grandes invenções e descobertas científicas não teriam acontecido. A velha história da maçã caindo na cabeça de Newton e fazendo-o "descobrir" a lei da gravidade não passa de conversa para boi dormir. Se a queda da maçã fez Newton pensar na gravidade, é porque ele já vinha ruminando, refletindo, pesquisando acerca do fenômeno.

Em resumo, podemos dizer que a pesquisa está presente:

- No dia-a-dia, nas ações mais corriqueiras;
- No desenvolvimento da ciência;
- No avanço tecnológico;
- No progresso intelectual de um indivíduo.

O QUE É UM PROJETO?
 
Usa-se muito essa palavra, mas o que será mesmo que ela significa? É fácil descobrir. Pense no que faz aquela máquina que existe nos cinemas e que se chama projetor. Você está sentado na platéia, no meio da sala. Na sua frente, a tela. Atrás de você, aquela cabine com buraquinhos na parede por onde passa o filme. Se a cabine está atrás de você, e a tela está na frente, o que significa projetar o filme? Significa isso mesmo: lançar para a frente (neste caso, o filme).
Fazer um projeto é lançar idéias para a frente, é prever as etapas do trabalho, é definir aonde se quer chegar com ele – assim, durante o trabalho prático, saberemos como agir, que decisões tomar, qual o próximo passo que teremos de dar na direção do objetivo desejado.
Assim como fazemos pesquisa de modo informal e rudimentar quase a todo momento, também é comum fazermos projetos simples para termos uma idéia, uma previsão do que nos espera pela frente.

Um projeto para ensinar a pesquisar

É claro que para um trabalho de pesquisa na escola de 1º grau podemos fazer projetos mais simples. Como quero dar aqui algumas idéias bem práticas, imaginei que, ao longo desse livro, podemos empreender um trabalho de pesquisa. O que estou querendo dizer é que, antes de pedir a eles que façam por conta própria uma pesquisa, você deve mostrar a eles como se faz este tipo de trabalho. Isso porque você só pode obter um produto depois que tiver conhecimento do processo de produção.
Os itens do projeto (muito simples) que poderíamos elaborar são os seguintes:

    1. - Título:..
    2. - Objetivo:..
    3. - Justificativa:..
    4. - Metodologia:...
    5. - Produto final:...
    6. - Fontes de consulta:...
    7. - Cronograma:...

  • Nosso próximo passo será preencher cada um desses itens de acordo com a idéia inicial, que é o tema geral da pesquisa. A montagem do projeto é uma fase importante do trabalho. É preciso que ela se faça dentro de um clima de muita discussão e debate, permitindo a democratização das decisões

    DISCUTINDO O PROJETO.

    O TÍTULO.
     
    É coisa fácil de explicar, não é? Tudo o que a gente faz precisa ter um nome. Mas nem sempre ele é definitivo. Se você (ou a turma) não estiver muito inspirado para batizar o trabalho, dê um título provisório. No desenrolar da pesquisa pode ser que alguém encontre um nome interessante, pitoresco ou divertido para ela.
    Quando uma fábrica de automóveis está estudando um modelo novo, ele recebe um nome provisório, só para constar do projeto. Uma vez terminada a pesquisa, feitos todos os testes e terminados os últimos ajustes é que a equipe de criação vai imaginar um nome que tenha um bom apelo comercial apara o carro.
       
    O OBJETIVO.

    É o ponto de chegada, a meta final. É a contribuição que o projeto que dar ao conhecimento daquele tema. Uma pesquisa sem objetivo é uma aberração científica! Essa história de mandar o aluno pesquisar com o único "objetivo" de apresentar um trabalho para o professor dar uma olhada superficial e atribuir uma nota é um verdadeiro crime contra a ciência! O pesquisador em farmácia que está testando novas combinações de substâncias para tentar combater uma doença tem o objetivo claro de salvar vidas humanas. Faça ver a seus alunos que fazer pesquisa é assumir pelo menos um compromisso: aumentar o conhecimento das pessoas acerca de um determinado assunto. E isso é uma grande responsabilidade! 

    A JUSTIFICATIVA.

    É a "desculpa" que você dá para fazer aquela pesquisa. Qual a importância daquele tema escolhido? Ele tem relevância para as pessoas envolvidas? Ele pode contribuir de algum modo para o aperfeiçoamento da sociedade em que está inserido?
    A justificativa é a defesa que você faz de seu projeto. Nela você apresenta argumentos que convençam as pessoas de que aquele trabalho é digno de interesse.  

    A METODOLOGIA.

    A metodologia, como o nome indica, tem a ver com o modo de obtenção dos dados que sustentarão a pesquisa.
    Mas nem toda pesquisa se faz com métodos tão simples. Algumas exigem gravações em fita cassete ou em vídeo, elaboração de maquetes ou protótipos, experimentos controlados, testes monitorados, entrevistas com informantes, visitas e cemitérios, autópsias de cadáveres, consultas a museus, dissecação de animais, escavações, prospecções, explosões, implosões, mergulhos em alto-mar, escalada de montanhas etc. É praticamente infinito o número de métodos de pesquisa que existem.
    Mas é preciso Ter um método. Pedir ao aluno um trabalho de pesquisa sem ajudá-lo a definir melhores métodos para fazê-lo é o mesmo que dar um prato de comida a uma pessoa e obrigá-la a comer com as mãos marradas para trás. Bem ou mal, ela vai acabar comendo, mas só deus sabe como! É preciso não só desamarrar as mãos dos nossos alunos, como também mostrar a eles os talheres adequados para aquele tipo de comida! Sopa com faca nem pensar! 

    PRODUTO FINAL.

    Este é um ponto importantíssimo deste nosso projeto, e quero insistir muito nele. Imagine que alguém lhe encomendou um bolo e que você o fez maravilhoso. Pronto o bolo, a pessoa aparece, enfia um dedo nele para ver se está macio, dá uma cheiradinha por cima, diz que está bom e depois joga tudo no lixo. Não é horrivelmente frustrante? Um bolo (principalmente se for maravilhoso!) é para ser apreciado, saboreado, compartilhado com muitas pessoas, aproveitado por todos os que estão à nossa volta. Em torno dele podemos até organizar uma festa!
    Por que estou falando de bolo e de frustração? Porque o que acontece com a maneira convencional de fazer pesquisa na escola é uma história bastante parecida. O professor pede uma pesquisa ao aluno. Ele a faz do jeito que pode e leva-a para o professor. Este passa os olhos pelo trabalho (afinal, para que ler mesmo, não é? Eu já sei essas coisas de cor!), dá uma nota e devolve ao aluno (quando simplesmente não o joga fora). É ou não é absurdo?
    Já vimos que fazer pesquisa é assumir um compromisso e uma responsabilidade. Todo trabalho tem que ter um produto final. No nosso caso, a pesquisa tem que dar aquela contribuição, de que já falamos, para o aperfeiçoamento intelectual do indivíduo, da turma, da escola, da comunidade...
    O tipo específico de produto final que desejamos obter com a pesquisa que propusemos aos alunos. E é igualmente preciso que este produto final tenha um destinatário, que não pode ser apenas o professor.

    FONTES
     
    As fontes da pesquisa podem ser tão variadas quanto as metodologias. Tudo depende, mais uma vez, do objetivo visado. Para a produção do nosso texto, poderemos recorrer basicamente a uma pesquisa bibliográfica.
     

    Este texto é parte do livro: Pesquisa na Escola: o que é como se faz, de Marcos Bagno.